Todos no meio criminal já sabem que o cliente mente para o advogado, por isso faço logo o seguinte alerta: “diga-me a verdade, mano, mentiras ou omissões só vão te prejudicar agora e depois, no processo”.
O processo penal atualmente conta com várias ferramentas favoráveis ao réu, que podem ser usadas pelo Advogado, que fazem a diferença numa eventual condenação e outras que barram o início do processo, por exemplo: o acordo de não persecução penal, mas só vale se confessar a verdade. Contudo irei explicar melhor contando uma história:
O escritório atendeu um chamado de um cliente, às 7 horas da manhã, por meio de uma ligação telefônica. Ele dizia que havia sido intimado para comparecer a uma das Delegacias de Polícia do Distrito Federal.
Bastante ansioso, falava que estava fazendo apenas a entrega de mercadorias da Amazon em um veículo furgão e que apenas havia registrado a ocorrência policial de roubo das mercadorias. Nestes casos é muito comum os motoristas não saberem o conteúdo das mercadorias por medidas de segurança.
Assim, continuou ele, dizendo que havia sido vítima de roubo, mediante sequestro por algum tempo, sendo obrigado a ingerir uma bebida alcoólica, tipo boa noite cinderela, ocasião em que apagou e quando acordou, no outro dia cedo, constatou que todas as mercadorias e o estepe do veículo haviam sido roubadas, além de estar sem gasolina.
Pela experiência de anos trabalhando na Polícia Civil do DF, logo desconfiei da versão, mas dei o crédito da confiança, tranquilizei o cliente e marquei um encontro no escritório para entendimento do fato pessoalmente, pois tinha esperança de que ele resolveria me contar a história verdadeira. A versão contada não batia.
De forma pessoal, ele confirmou sua versão mentirosa, agora na frente de parentes, que estavam presentes. Na oportunidade foi explicado, sobre a possibilidade de ter ocorrido outro fato, que não o roubo e sequestro, assim como a possibilidade de que teria ocorrido falsa comunicação de crime ou concurso dele com outros meliantes no “roubo”. Tudo em vão.
Assim, já na Delegacia, parte externa e antes de se apresentar, insistir que ele poderia confiar no advogado e que desta forma eu poderia lhe ajudar melhor. Claro que o Advogado chegou antes para ter acesso a toda investigação policial e estancar qualquer risco de prisão do cliente.
Resultado. Formos para o depoimento na presença do agente de investigação e posteriormente perante o delegado. O que ele não sabia e não me contou, era que o veículo usado havia sido locado de uma empresa de veículo para efetuar o serviço. Estes carros normalmente são monitorados por GPS e o policial civil já tinha toda a rota do veículo.
Após algumas horas de entrevista o policial, mostrando sinais de impaciência, disse que estava de posse do relatório de GPS do carro, bem como perguntou se ele, porventura era viciado em drogas ou bebidas. Percebi de imediato uma inquietação do cliente.
Neste momento, percebendo que era o momento de fazer novo alerta ao cliente para seu benefício, pois a “casa dele havia caído”, solicitei ao policial para conversar a sós com o cliente. Expliquei o que lá atras tinha dito, qual seja, que precisava me dizer a verdade.
Quando perguntei e recebi como resposta positiva, que possuía conta de -e-mail pessoal – Gmail e se ele estava com o celular no dia dos fatos, recomendei que era melhor me dizer a verdade, pois a polícia por questões de horas derrubaria sua versão e sua situação processual ficaria pior.
Isto porque a rota do veículo já estava na mão. O próximo passo seria quebrar o sigilo do seu e-mail, onde se comprovaria também, a data, o horário e o local por onde esteve. Diante da versão mentirosa poderia vir outras questões como participação no crime do “roubo” de mercadorias, ou seja, complicaria muito a situação e muita energia e recursos seriam usados para desfazer tal situação.
Por isto, resolveu dizer a verdade, ou seja, que é viciado em crack e fez uso da droga durante o horário de trabalho, já que nas folgas é monitorado por sua família. Contudo perdeu o controle da situação, ficou desacordado e os usuários fizeram a festa, ou seja, subtraíram toda a mercadoria, roubaram o estepe do veículo e ao amanhecer devolveram apenas as chaves do carro.
Desta feita, após saber a verdade dos fatos, conseguimos realmente ajudar o cliente na Delegacia, onde sob orientação do Advogado, prestou seu depoimento, disse o tempo que estava internado, que é viciado em drogas e encontra-se em recuperação, além de ser orientado a juntar, o quanto antes, documentos que comprovem que esteve internado em clinicas de recuperação de viciados recentemente, de forma a sanar as dúvidas de que não teve qualquer participação nos roubos e que, realmente fora vítima, tudo se resolverá, em tese, em falsa comunicação de crime, de menor potencial ofensivo.
Este é apenas um exemplo, para ilustrar sobre a necessidade do Advogado saber a verdade e traçar a melhor tese de defesa.
Por isto, sempre procure um ADVOGADO CRIMINALISTA de sua confiança.